Loki

O deus mais “dedo no cu e gritaria” que você vai conhecer.


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Quem é Loki?

Loki (pronuncia-se “Lou-ki”), é um dos deuses mais conhecidos e controversos do panteão nórdico. Como sendo filho de Laufey (mãe) e Farbouti (pai), ambos jotun (gigantes), também o é.

Loki é conhecido por ser um deus com um senso de humor bem peculiar. Uma divindade caótica, capaz de (e ávida a) realizar feitos muito distoantes do que se tem como “boa moral e bons costumes”. Loki é, sem sombra de dúvidas um quebrador de padrões e tabus. Dedo no cu e gritaria. Deus da trapaça e das travessuras, do fogo, da metamorfose, da luxúria e, certamente, da lábia e da astúcia.

Em muitas das espiritualidades e religiões ao redor do mundo, há sempre uma cosmogonia bivalente, centrada em duas polaridades: o Bem e o Mal. E quando falamos da cultura e mitologia nórdica, essa bivalência pode muito bem ser expressa em Ordem e Caos. Mas isto não significa que a Ordem é o que se entende por Bem, e que o Caos é o equivalente ao Mal.

Os deuses nórdicos, originalmente, eram vistos como seres mais ou menos humanos, mas mais poderosos – possamos fazer este comparativo. Nem bons nem maus, mas capazes de atuar tanto em Ordem, quanto em Caos.

Quando o cristianismo chegou ao norte da Europa, havia a necessidade de expressar o conceito de Mal, demonizando uma divindade. Tenho certeza que você daí já sabe como isto termina: assim, a figura de Loki foi associada à maldade, levando em consideração a sua história de trapaças e travessuras em seus mitos.

Entretanto, como citei antes, Bem e Mal não eram conceitos nórdicos. E Loki, como sendo uma divindade balanceadora (isto, ao meu ver), atuava caoticamente, fazendo tanto o que poderia ser entendido como bom, quando o que poderia ser considerado mau. Apenas o que era mais conveniente para si. E tava errado? Não.

“Ai, ai, esse Loki. Ele é brincalhão assim mesmo.”

Luã Musi – passando o pano várias vezes.

Loki e a Sexualidade

Loki é um deus sexual. É fogo. É calor. É luxúria e desejo. E como um deus metamorfo, é retratado como pangênero, ou seja, tem todos os gêneros em si. Havendo exemplos, como a vez em que ele se metamorfoseou em égua, e deixou-se inseminar por Svadilfari, sendo assim, Loki, a mãe de Slepnir.

E também, de acordo com o que se sabe, expressa sua omnissexualidade, em seus mitos. Ou seja, expressa os seus gêneros através da atração por tudo, podendo um gênero ser o determinante momentaneamente.

“Loki, diferentemente do que muitas pessoas pensam, está [muito] conectado à homossexualidade, mas também à heterossexualidade [e] às relações sexuais, no geral.


Arith Härger, historiador e arqueólogo, no vídeo “Introduction to: The God Loki“.

Epítetos de Loki

Nesta seção, listo alguns dos epítetos de Loki.

É importante levarmos em consideração seus mitos e feitos quando tratando-se de epítetos. Os epítetos são títulos que expressam parte da personalidade, ou falam de feitos, ou definem de alguma forma o ser ao qual ele é dado, pelo senso comum.

“Pai de Hel
“Pai de Jörmungandr
“Pai de Fenrir
“Ladrão do Brisingamen
“Ladrão das Maçãs de Iduna
“Trapaceiro”
“Deus Astuto”
“Criador de Enganos”
“Tecelão dos Nós”1
“Loptr” (Ar, ou Céu)
“Corvo Perigoso”
“Adversário dos Deuses”
“Artífice da Morte de Baldur
“Oponente de Luta de Heimdallr
“Caluniador dos Deuses”
“Deus Queer2

1 Este é, talvez, o meu epíteto favorito. Loki é chamado de Tecelão dos Nós por alguns motivos em específico. O primeiro deles é que, em islandês antigo, “loki” pode ser traduzido como “nó”, ou “emaranhado”. Em segundo, pelo fato de Loki ser a figura que, geralmente, está por trás de acontecimentos importantes, levando a entender que ele é quem planeja tudo: é ele quem tece os padrões, quem planeja suas tramas, quem monta seus ardis e tece as teias, unindo os fios que considerar oportunos.
2 Naturalmente, como uma divindade que personifica e performa vários gêneros, é cultuado como uma divindade queer.

Alguns Mitos de Loki

A Fortificação de Asgard

Loki and Svadilfari“, por Hellanim.

Asgard é a morada celestial da tribo dos aesir, na mitologia nórdica. É cercada por uma parede alta, e densa, que é o que a protege de visitantes indesejados, em grande maioria dos gigantes, os jotun. Sua construção foi um evento que pode ser tido como um dos mais chocantes das mitologias ao redor do mundo.

Um gigante, disfarçado de construtor, disse que poderia construir uma muralha tão alta e forte que poderia manter os deuses a salvo de qualquer coisa que tivesse intenção de causar-lhes dano. Disse aos deuses que poderia completá-la em três estações, mas exigia a mão de Freyja em casamento, o Sol e a Lua, como compensação e pagamento pelo seu serviço. Obvio que a deusa foi contrária de forma ferrenha. Não seria ela um prêmio, ou submetida a qualquer situação contrária à sua vontade.

Depois dos deuses se reunirem em um conselho, Loki sugeriu que o construtor poderia ter o seu desejo realizado, se terminasse a construção da muralha em apenas um inverno, com nada além da ajuda de seu cavalo, o que foi aprovado com muita deliberação pelos deuses, pelo fato de acharem que seria impossível que o construtor terminasse dentro do prazo estabelecido.

O gigante, em contrapartida, aceitou os termos, e requisitou um juramento dos deuses, assegurando–se de que seriam fieis ao trato se as condições impostas fossem cumpridas, e de que sua estadia em Asgard durante a construção seria segura.

E então o projeto começou, sendo concluído em uma velocidade absurda. O garanhão do gigante, Svadilfari, era ágil e forte, e parecia fazer mais do que o próprio gigante construtor, arremessando incansavelmente pedregulhos imensos à construção, fortificando-a. A três dias do prazo expirar, ficou claro aos deuses que em condições normais o construtor conseguiria terminar a obra dentro do prazo. Um novo conselho secreto foi requisitado, e os deuses praguejando contra Loki por ter sido sua ideia, fizeram-no jurar que faria tudo o que fosse preciso para que o construtor não terminasse dentro do prazo estabelecido.

Mais tarde, durante a noite, o construtor e seu cavalo rumaram à floresta, cheia de neve, dado o inverno, à procura de pedras para finalizar o trabalho. Loki, metamorfoseou-se em égua e os seguiu, de perto. Relinchando atraiu a atenção de Svadilfari, que quebrou suas rédeas e perseguiu o deus metamorfoseado pela noite adentro, preso em seu ardil de luxúria. Ao amanhecer, o gigante ainda sem seu cavalo, se deu conta que não teria como terminar o serviço dentro do prazo.

Enquanto isto, Svadilfari copulava com Loki, que em breve daria à luz Sleipnir, o cavalo cinzento de oito patas, o corcel mais veloz de toda a existência, predestinado a se tornar a montaria de Odin.

Ao não conseguir cumprir o acordo, os deuses deram ao gigante o pagamento que acharam adequado, sendo Thor e seu martelo, Mjolnir, a parte responsável pelo pagamento: uma marretada na cabeça, tão forte que o despedaçou em migalhas.

“The Family”, por Hellanim.

A Morte de Baldr

Baldr (ou Balder, ou Baldur) é um deus retratado em alguns locais como filho de Odin e Frigga. Em outros, apenas como seu protegido. Este mito começa com Baldr tendo sonhos proféticos a respeito de sua morte iminente. Com esta, ainda possibilidade, contou a Odin e Frigga a respeito, que fizeram com que tudo (ou quase tudo) jurasse não causar mal algum ao deus. E assim eles obtiveram o juramento de quase todas as coisas, de que não fariam mal a Baldr, exceto do visgo, que seria uma planta inofensiva demais para causar qualquer dano ao deus.

E então todos os deuses se uniram em uma festividade, arremessando coisas a Baldr, apenas para o seu deleite, já que nada o poderia ferir. O mito conta que Loki moldou uma flecha de visgo, dando-a a Hoder, irmão cego de Baldr, que não saberia o que atiraria. Nos instantes seguintes a flecha disparada por Hoder, com as instruções de Loki, perfurou o coração de Baldr, matando-o.

Odin pediu a Hel, deusa dos mortos, e filha de Loki, que Baldr fosse trazido à vida. A deusa concordou, com a condição de que todos os seres capazes de fazê-lo, derramassem uma lágrima por Baldr. Naturalmente, Loki não o fez, fadando Baldr a permanecer morto.

The Death of Baldur“, por Collingwood.

O Rapto de Iduna

Odin, seu irmão Hoenir, e Loki viajavam pelas montanhas. Acometidos pela fome, se depararam com um rebanho, do qual caçaram e abateram um boi, colocando-o imediatamente para assar. Ainda que muito tempo ao fogo, constataram que a carne continuava crua. Ouviu-se então uma voz, do topo de um carvalho, vinda de uma águia, que brevemente os informaria que a carne estava sob um feitiço seu, de modo que não assaria, a menos que lhe dessem de comer dela, também.

Os deuses concordaram. Com o acordo feito, a águia desceu em um rasante, surrupiando um pedaço imenso do boi. Loki, furioso, cravou nela sua lança. A águia, alçou voo, presa à lança, com um deus relutante em soltá-la. Levou-o consigo, para bem alto, despertando neste um medo de que poderia morrer caso caísse.

A águia só o levaria de volta ao chão se o deus prometesse ajudá-lo a sequestrar Iduna, a deusa da juventude e da poesia. Ficou acordado que Loki a levaria para fora das muralhas de Asgard, de modo que a águia poderia, então, raptá-la. De volta ao chão, seguiu com os outros deuses para Asgard, decidindo cumprir com sua palavra. E em um momento muito conveniente, ele atraiu a deusa para fora das muralhas, até um bosque, dizendo que havia encontrado maças tão bonitas quanto as que a deusa cultivava. Atraída pela curiosidade, Iduna o acompanhou, sendo então raptada pelo que se revelara um jotun (gigante) chamado Tjazi, que podia transformar-se em águia. Tjazi é conhecido por ser o pai de Skadi, a giganta e deusa do inverno.

“He Flapped Away With Her, Magic Apples, and All” por Elmer Boyd Smith.

Com Iduna ausente, os deuses, que dependiam de suas maçãs da juventude, começaram a envelhecer. Em um conselho, apurou-se que ela tinha sido vista pela última vez na companhia de Loki, que ameaçado de ser torturado ou morto, confessou sua participação em seu rapto. Prometeu sua redenção, se o deixassem sair para resgatá-la.

O deus pediu, então, o manto de penas de falcão de Freyja. Com o uso dele, poderia voar até Jotunheim, reino dos gigantes, onde ficava o lar de Tjazi. Chegando lá, adentrou a casa do gigante Tjazi, que para sua sorte não estava – havia ido pescar. Avistou Iduna e transformou-a em uma noz. para conseguir levá-la consigo. Em sua volta, Tjazi, viu que Iduna não estava mais lá, e ao avistar um falcão – Loki, sob o encanto do manto de penas – sobrevoando os céus, deduziu que ele teria algo a ver com o (segundo) rapto da deusa, e passou a perseguí-lo.

Em altas velocidades, ambos voaram na direção de Asgard. Tjazi no encalço de Loki e Iduna, ainda como uma noz. Os deuses, ao verem as duas aves, rapidamente bolaram um plano: reuniram uma pilha de lenha e gravetos e a incendiaram, na entrada de Asgard. A tempo de, somente, Loki e Iduna conseguirem passar por ela, antes disto. Tjazi teve as asas queimadas pelas altas chamas, resultando em sua queda. Uma vez no chão, os deuses avançaram sobre ele e o mataram antes que pudesse passar pelos portões de Asgard.

Associações a Loki

• Áreas de Ação

Metamorfose (Glamour), Sexualidade, Sensualidade, Luxúria, Trapaça, Astúcia, Ardilosidade, Lábia, Eloquência.

• Animais

Caprinos: Apesar de serem símbolos comuns de Thor, aqui pode ser feita uma referência ao mito onde Loki prende com um barbante seus testículos a um bode, em uma tentativa de fazer Skadi sorrir.
Equinos: Por ter se tornado uma égua, durante A Fortificação de Asgard, mencionada na seção de mitos, acima, Loki pode ser associado aos cavalos.
Focas: Após roubar o Brisingamen de Freyja, em um dos mitos, Loki luta contra Heimdall pela posse do artefato, ambos metamorfoseados em focas.
Lobos: Como pai de Fenrir, que foi transformado em lobo como punição, têm-se esta associação. Além disto, Loki é feito um “irmão de sangue” de Odin, que é muito associado a lobos.
Moscas: Loki se transforma em uma mosca, em uma tentativa mal-sucedida de vencer uma aposta contra os anões forjadores do Mjolnir.
Pássaros: As maiores associações com pássaros são feitas com corvos, falcões e urubus, citados em alguns de seus mitos.
Raposas: Loki nunca foi associado a raposas, nos mitos, mas assim o é feito pela crença popular das raposas como sendo tricksters, inclusive retratadas na cultura pop.
Salmões: Loki se transforma em um salmão, para se esconder dos Aesir, após trocar insultos com eles, sendo, infelizmente, capturado por Thor, em um dos mitos.
Serpentes: Loki é o pai de Jormungandr, a serpente que circula o mundo. Além disso, ao ter o deus acorrentado nos eventos que precedem o Ragnarok, Skadi faz com que uma serpente venenosa esteja sempre a pingar veneno por sobre sua cabeça. Sem contar que serpentes são animais ardilosos, de acordo com o misticismo, e além disto trocam de pele, fazendo uma alusão à habilidade de metamorfosear-se.

• Ervas / Plantas

Bétula: Pela associação de Berkana (bétula) ao deus, no poema rúnico norueguês.
Canela: É associada, modernamente, a Loki, por ser uma erva “quente”, de cheiro forte, e ligada à sensualidade.
Dente-de-leão: Conhecido em alguns locais como “flor-de-Loki“.
Musgo-capilar: Chamado de “Aveia-de-Loki“, em alguns locais. É dito que em um de seus mitos, Loki estava semeando aveia, mas o calor excessivo do verão distorceu a visão, fazendo com que os grãos parecessem esta outra planta.
Visco: Utilizado para matar Baldr, como mostrado no mito citado muito acima.

• Runas

Berkana: O deus é citado no poema rúnico norueguês, na runa Berkana: “A bétula tem as folhas mais verdes que qualquer arbusto; Loki teve sorte em seu truque.
Kenaz: Loki é associado ao elemento Fogo.

• Estrelas

Lokabrenna: Os nórdicos antigos chamaram a estrela que nós conhecemos como Sirius (da constelação Canis Majoris) de Lokabrenna, que significa “Tocha de Loki“.

• Festivais

Lokablót: A celebração sacrificial a Loki. Não tem data certa, porque não há evidência histórica do culto de Loki. Mas, seus devotos modernos costumam celebrar em duas datas.
1 de Abril por ser o “Dia da Mentira”, onde as pessoas pregam peças umas nas outras.
Dia de Lokabrenna, ou seja, o dia em que a estrela Sirius se eleva. No mesmo dia em que os kemeticos celebram o Wep Ronpet.

• Cores

Cores quentes, que possam ser associadas ao fogo e ao calor. Geralmente, vermelho, laranja e preto.

• Oferendas

Alimentos: Comidas excessivamente doces. Comidas apimentadas. Bebidas alcóolicas, e/ou quentes, no geral. Vinhos, cervejas escuras, hidromel.
Objetos: Brinquedos inteligentes, de enigmas, e de charadas. Objetos “diferentes”, engraçados, ou sem motivo óbvio aparente.
Essências / Incensos: Canela, majoritariamente. Essências fortes, mas não enjoativas.
Atos: Falar verdades difíceis, que normalmente se evita com receio de “desestabilizar as energias do ambiente”. Loki é um pária. Geralmente excluído, incompreendido, por escolher viver suas verdades deliberadamente, custe o que custar. Assumir quem você é verdadeiramente, mesmo às custas de algo importante, é um ato que pode ser ofertado a Loki. Outro ato devocional, mais leve, é não levar tudo muito a sério. Não por negligência, mas no sentido de se permitir rir, quebrar tensões, transformar caras fechadas em gargalhos.
Chamas: Fogo é uma possível oferenda a Loki, tendo em vista a sua conexão com este Elemento.

Luã Musi

http://www.bruxodelua.com
@bruxodelua


Referências

• Arith Harger: “Introduction to the God: Loki“;
• Grumpy Lokean Elder: Kennings, Heiti, and Other Alternate Names for Loki“;
• The Exploring Series: “Exploring Norse Mythology: Loki, God of Trickery“;
• Norse Mythology: “The Aesir Gods and Goddesses: Loki“;
• Lokean Welcoming Committee: “Symbols for Loki“;
• Northern Paganism: “Offerings to Loki“.

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