“Um tema comum tanto no xamanismo quanto na bruxaria é a relação entre o praticante espiritual e o mundo espiritual – em particular, a relação que o praticante tem com um espírito específico, muitas vezes referido na bruxaria como ‘familiar’.” ― Storm Faerywolf, em “Forbidden Mysteries of Faery Witchcraft“, tradução livre.
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Os Familiares e O Imaginário Popular
Primeiramente, o que são familiares? Com muita calma, é preciso entender que o que se entende por “familiar” pode muito bem variar. Folcloricamente é dito que, nos tempos da Inquisição, familiares seriam demônios menores “dados” às bruxas pelo “Diabo” para que as ajudassem magicamente, e que poderiam se metamorfosear em animais para evitarem suspeitas. O simples fato de uma pessoa (implicitamente, mulher) cuidar de um animal de estimação já poderia ser um indício de bruxaria, presumivelmente. Especialmente quando estes animais de estimação tivessem associação a qualquer divindade pagã (considerem esta última parte uma gnose pessoal, não um dado histórico).
Em outra versão mais aceita – levando em consideração que a anteriormente citada é bastante tosca, por falta de adjetivo melhor – familiares seriam espíritos conjurados, chamados a habitarem os corpos de animais (ou não), para que pudessem atuar magicamente, também, em benefício das bruxas que os teriam conjurado. A igreja diria que familiares seriam demônios menores, que as bruxas teriam subjugado. Entretanto, eu evito mencioná-los desta maneira, primeiramente por não compactuar com conceitos judaico-cristãos na bruxaria.
Era dito, também, que os familiares se alimentariam do sangue da bruxa que os teria conjurado, para que assim tivessem forças para realizar seus pedidos, demandas e para que sua proximidade se estreitasse. Estas ideias se fixaram por muito tempo no imaginário popular. Se a pessoa sob a acusação de bruxaria tivesse uma verruga, ou marca corporal, presumivelmente, seria por esta que o familiar supostamente se alimentaria de seu sangue. Na série “Salém” há uma representação visual bem fidedigna deste imaginário. Durante a Inquisição, os animais de estimação das mulheres denominadas bruxas pela não-tão-santa igreja teriam o mesmo fim: queimados no mesmo fogo.

Familiares & Cultura Pop
Talvez o familiar mais famoso das telinhas seja ele, ninguém mais e ninguém menos que Salém Saberhagen, o queridinho gato preto munido de muito sarcasmo, ironia e humor ácido, do universo de “Sabrina, Aprendiz de Feiticeira“. Neste caso, Salém foi um bruxo que foi amaldiçoado, sendo condenado a viver sob a forma de um felino.




Salém trouxe um pouco de comicidade para a série, talvez, ajudando a quebrar alguns estereótipos, e se tornando um queridinho das telinhas. Uma marionete dava vida ao gatinho mais querido dos anos 90, nas cenas onde era preciso falar. Quando não, haviam quatro “gatores” e “gatrizes” que o interpretaram: Lucy, Elvis, Warlock e Witch.
Sua popularidade foi tão grande, que na adaptação “O Mundo Sombrio de Sabrina” ele não ficou de fora. Entretanto, sua história foi mudada para que se adequasse às tramas da adaptação. Em um rito muito bonito, Sabrina o conjura, em uma floresta, o encantamento utilizado está descrito a seguir, em uma tradução livre, feita por mim. Inclusive, com algumas alterações, pode ser utilizado para invocar um familiar, sempre com muito cuidado e respeito.
“Espíritos da floresta, eu vos anuncio minhas intenções. Venham adiante e me encontrem, e como iguais nós seremos. Não como mestra e servo, mas como familiar e familiar, e compartilharemos nossos conhecimentos, nossos espíritos, e nossas características.”
Sabrina Spellman, em “O Mundo Sombrio de Sabrina”. Tradução livre.
O que são, de fato, os Familiares
Há algumas incertezas no que se sabe sobre familiares, de modo que é um tema bastante nebuloso para se trafegar com segurança. Familiares seriam espíritos. Desta forma, é muito comum encontrar algo se referindo a “espíritos familiares”, que, de fato, seriam espíritos, que em algum momento se apresentariam a uma bruxa, ou seriam invocados por esta, e a partir de então seria criado um laço mágico de trabalho conjunto.
Desmistificando, o trabalho com familiares é um trabalho com espíritos (ou seres). Quaisquer aliados mágicos espirituais podem ser familiares. Mas, que tipo de aliados mágicos? Não é especificado. Espíritos elementais? Talvez. Espíritos de pessoas que morreram? Talvez, sim. Espíritos de animais de estimação que vieram a falecer? É possível, também. Dragões? Quem sabe? No geral, espíritos (ou seres) que detém algum tipo de consciência, poder mágico, e algum tipo de conhecimento e sabedoria, que não necessariamente precisam ter forma astral definida. Familiares são entidades.
Pets podem ser Familiares?
Familiares podem aparecer para uma bruxa na forma de animais, de criaturas mágicas, de pessoas, até mesmo como esferas de energia, e inclusive amorfos. Popularmente, quando pensamos em familiares, a primeira imagem que vem à nossa mente é a de um animal de estimação de uma bruxa. Por quê?
Pela associação da palavra, e talvez por um pouco de confusão, a sociedade passou a chamar de familiares os animais de estimação das bruxas. Sem sombra de dúvida, há animais que têm laços profundos conosco, bruxas e demais praticantes de magia. O próprio nome já diz, “familiares“, como família. Através destes ditos laços, é possível até mesmo que de forma inconsciente compartilhar habilidades mágicas, percepções, e até mesmo a vida. Ao menos, enlaçar sutilmente as tramas vitais, de modo que energeticamente, passemos a dividir os efeitos de qualquer magia. Aliás, por isto, é muito comum que animais recebam a carga energética de algum ataque mágico endereçado a bruxas, e comecem a apresentar sinais antes mesmo do ataque ser notado.
Com a proximidade do convívio, a gente sabe exatamente o que nossos animaizinhos precisam quando eles se aproximam. Aprendemos a nos comunicar de forma única, e mesmo que as palavras ou sons emitidos não sejam decodificados racionalmente, há uma compreensão que perpassa essa necessidade, um vínculo emocional e muitas vezes sobrenatural. Quem nunca esteve se sentindo pra baixo, e subitamente apareceu um pet para dar carinho ou fazer algo que viéssemos a achar engraçado? Ou até mesmo doente, machucado, e um pet brotar do nada, e ir exatamente na direção do machucado…? Eles têm um “faro” mágico muito mais aguçado que o nosso, na maioria das vezes.
De modo geral, dando o nó, animais podem sim ser familiares. Mas não é como se você fosse chegar pro seu gato ou cachorro e perguntar “ei, você quer ser meu familiar?“. Não é porque seu pet fica junto de você observando suas práticas mágicas que é um indício de que é um familiar. Afinal, familiares são espíritos (ou seres) com consciência aguçada, e que são espiritualmente independentes. É possível que animais de estimação sejam “chamados” familiares, mesmo que sua ação fique mais limitada ao plano físico. Não esqueçamos: por aqui, neste plano, também transita energia.
No que os familiares podem auxiliar?
Me concedam a licença poética, para auxiliar na compreensão, e entendam isto como um figurativo de gnose pessoal: familiares são (ou podem ser) como parceiros Pokémons, que ao invés de lançarem chamas, rajadas de folhas ou canhões de água, podem canalizar energia para magias ou auxiliar nelas. No fim das contas, é necessário trabalho conjunto! Vocês treinam em conjunto e evoluem em conjunto. Familiares são aliados mágicos.
A resposta mais curta por aqui é: a criatividade é o limite, para o que um familiar é capaz de fazer, magicamente. Familiares trabalham em conjunto com suas bruxas, seja auxiliando em viagens astrais e guiando jornadas espirituais, ou intensificando e “entregando” feitiços, ou fortalecendo proteções mágicas, guarnecendo ambientes e atuando defensivamente, provendo energia de cura, auxiliando no despertar de dons, melhorando a intuição… enfim.
Uma miríade de possibilidades. Vai depender mesmo é do que cada familiar pode fazer, magicamente, afinal cada ser é diferente de outro e possui dons, particularidades, características distintas… nem todos os familiares vão poder ajudar com cura, assim como nem todos vão ser exímios intensificadores de energia. Crie uma relação de entendimento com seus familiares, e descubra o que vocês podem fazer em conjunto.
Primeiro contato com um familiar
Não. Você não vai, exatamente, escolher um familiar. Não vai aparecer um carrossel pra que você faça “uni-duni-tê, o escolhido é você”. Há diversas maneiras deste primeiro contato acontecer. Uma pessoa pode herdar um familiar, similar à forma como pode acontecer com as Fylgjur, entidades de origem nórdica, com similaridades. Também é possível se deparar com um familiar, em algum momento específico de sua jornada espiritual e/ou mágica, sobretudo sem que exista a pretensão. Existe também a possibilidade de evocar um familiar, um encantamento já foi citado acima. Cada meio de “encontro” tem suas particularidades.
Se um familiar for herdado, é muito possível que já exista algum registro dele, sobretudo em clãs familiares, por exemplo. Então, deste modo, é presumível que fique bem mais fácil, porque alguém já teria trilhado parte deste caminho, e te daria informações valiosas. Quando (e se) acontecer de um familiar “se apresentar”, não é possível prever como se dará este acontecimento. Entretanto, quando se decide conjurar um, é importante ter em mente que é extremamente importante não evocar coisas com as quais você não saiba lidar.
O que posso falar de mais comum a todas as possibilidades é que precisa haver contato para que haja “entrosamento”. Quanto mais você conhecer seu familiar, melhor será seu trabalho com ele. E como fazer para conhecer mais? Trocas mágicas. Você faz algo com e/ou para seu familiar, que por sua vez também faz algo por você. Oferte água, luz (velas), medite em sua presença, chame para trabalhar quando for realizar alguma atividade mágica. Ofereça algo que possa ser interessante ou que tenha relação com seu familiar, como um desenho de sua forma astral. Peça contato através de sonhos, peça confirmações através de sinais… é um relacionamento que começa. E como tal, não tem um molde.
Deixe fluir.
Como Conjurar um Familiar
Não há um jeito certo, ou infalível. Magia é isto: tentativas que resultam em erros e acertos. Não há uma fórmula mágica, não há palavras certas, não há sequer a garantia que haverá algum ser ouvindo e responderá, mas é importante que ao decidir fazê-lo, suas intenções sejam evidentes. Que tipo de familiar você busca? Pesquise de antemão. E visualize.
Trace um círculo, se sentir a necessidade – recomendo. Pode utilizar velas, incenso, cristais, representações do que deseja também são uma boa. E lance suas vontades ao universo através de palavras, dentro deste círculo. Fale, e se abra a ouvir. Se dirija a algum “grupo” de seres específicos, ou não, a escolha é sua. Fale com especificidade, mas se abra à surpresa. Especifique seu propósito. Nada de chamar os “espíritos dos mares” sem especificar a quais espíritos você se refere, por exemplo. Lembre-se que nem todos os espíritos são bondosos, ou têm boas intenções para com você.
Tenha em mente que é muito possível que um espírito que possa vir a se tornar um familiar passe um tempo te sondando antes de tentar contato, e ainda pode ser ser que nenhum espírito se apresente. Certamente, haverá algum ser que ouvirá o seu chamado. Mais uma vez, isto não te dá garantia de resposta.
Uma vez que um espírito tenha se apresentado, não faça contratos mágicos que você não entende! Especialmente, aprenda a ouvir a sua intuição. Se algo te desperta alguma sensação que não é boa, não se jogue nela.
Outra coisa muito importante: conseguir conjurar um familiar não te dá poder sobre ele. Considere uma honra ter a oportunidade de trabalhar com espíritos que existem há muitos mais anos que a sua existência, e não aja com a presunção de que é capaz de subjugá-los e obrigá-los a fazer suas vontades.
Perguntas
• Um servo astral pode ser um familiar?
Não diria que sim, afinal um familiar é uma entidade, um ser, singular, que tem certo nível de compreensão e cognição energética, presumivelmente além do de uma forma-pensamento.
• Uma planta pode ser um familiar?
Não diria que a planta propriamente dita pode, mas algum espírito associado à planta, talvez. Não um espírito essência, mas talvez o espírito de uma planta em específico. Embora eu não tenha conhecimento de nenhum registro sobre espíritos de plantas serem familiares, não posso descartar a possibilidade. Testa.
• Como saber qual o meu familiar?
Tudo se resume primariamente a como este decidirá se apresentar a você. E aliás, se sequer algum familiar se apresentará. Você pode tentar conjurar um. Com o convívio, ficarão nítidas as características que este possa vir a ter, visto que possivelmente, serão espelhadas em você.
• É obrigatório ter um familiar, para ser uma bruxa?
Não. Uma bruxa nem precisa, e nem depende de um familiar. Entretanto, pode ser uma experiência interessante, o contato com um. Ou até mesmo mais de um.
• Um familiar pode ser um animal de poder?
Não necessariamente, mas pode escolher se apresentar na forma de um de seus animais de poder.
• Quantos familiares é possível ter?
Não há limite. Mas cuidado, elos mágicos não devem ser feitos levianamente. Familiares podem exigir coisas para que continuem a trabalhar magicamente com você. Honre seus acordos, e não os negligencie.
Luã Musi
http://www.bruxodelua.com
@bruxodelua
Bom dia Luã, muita luz para nós !!!
Gostaria de uma ajuda sua para tirar uma dúvida que tenho, com relação ao traço do circulo mágico, no caso, para realizarmos qualquer ritual, devemos estar dentro do circulo ou no circulo só precisa estar os elementos do ritual ? isso sempre me bloqueou por receio de realizar tudo corretamente.
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Olá, Felipe!
Quando traçar um círculo, preferencialmente trace-o ao seu redor. Você estará protegido de todas as energias externas a ele, ao traçá-lo. Entretanto, nada impede de traçar apenas ao redor dos materiais. Pode ser que a cada momento haja uma necessidade diferente e você escolha baseada nela.
Bençãos, e boa jornada.
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